sexta-feira, 29 de julho de 2011

Embaixadores no Brasil


O programa de Embaixadores da Wikipédia foi criado para apoiar as iniciativas docentes no uso da Wikipédia em sala de aula, com alunos e voluntários experientes atuando como monitores técnicos para auxiliar os alunos na adequação ao layout e aos padrões de escrita enciclopédica do site. Há duas categorias: os Embaixadores de Campus, que são alunos da universidade ligada ao curso oferecido, e os Embaixadores Online, voluntários da comunidade Wikipédia geralmente com maior experiência de edição de artigos.

Os Embaixadores não apenas auxiliam os alunos e o docente, mas também atuam como representantes no elo entre a universidade e a comunidade Wikipédia para expandir essa colaboração. Na Wikipédia em inglês há um portal com diversos materiais de apoio para Embaixadores, alunos e docentes interessados no formato, bem como uma lista dos embaixadores atuais nas universidades americanas e no resto do mundo.

Apresentada essa parte bonita, vem meu preocupado pedido: preciso de Embaixadores para o meu curso! Os interessados perguntam se o programa oferece bolsa. A princípio é tudo voluntário, como em toda a Wikipédia, mas acredito que podemos contar o trabalho do Embaixador de Campus como atividade prática do seu próprio curso. Se o trabalho deste semestre der certo, talvez seja possível transformá-lo em bolsa de extensão no futuro próximo. Isso infelizmente não se aplica aos Embaixadores Online que não têm vínculo com a universidade com a qual irão trabalhar - aqui ainda contamos com o espírito de colaboração comunitária da Wikipédia.

Blog da Wikimedia Foundation

O blog da Wikimedia Foundation tem vários artigos sobre como anda o trabalho da Wikipédia com as universidades:

- LiAnna Davis relata mais um pouco sobre o encontro em Boston.
- Frank Schulenburg escreve sobre o crescimento estimado do projeto em 2011.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tablets na sala de aula

O link a seguir não tem necessariamente a ver com o tema direto deste blog, mas é uma entrevista bem interessante e provocadora sobre o uso, vantagens e limitações de novas tecnologias na sala de aula. O que o professor entrevistado ressalta é justamente que o hardware em si não faz milagre sozinho, algo que ainda muitos educadores insistem em não perceber:

Especialista faz ressalvas ao uso de tablets em escolas

Achei curiosas as reações nos comentários - muita gente contra a postura do entrevistado... O aspecto positivo da educação brasileira em relação a países considerados tão mais avançados, como a Coreia do Sul, também me chamou a atenção. É pena que essa abertura às necessidades do aluno associada a Paulo Freire não tenha se traduzido necessariamente em um ensino de melhor qualidade no Brasil. Claro, o problema é bem mais complexo, mas acho interessante que geralmente os estrangeiros têm uma perspectiva muito mais otimista do que nós mesmos sobre as possibilidades criativas que são desenvolvidas aqui quanto à educação. Notei a mesma coisa em relação aos professores americanos em Boston: atados à tradição dos currículos e aos objetivos ligados diretamente à performance escolar, eles me pareceram ter dificuldades de compreender focos mais além do desenvolvimento de competências profissionais dos alunos. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Debate com os professores


No primeiro dia do evento em Boston, durante a tarde, os professores participaram de uma atividade de discussão sobre alguns pontos da metodologia de aula com a Wikipédia. Cinco pontos foram escolhidos: notas, trabalhos, resultados, ferramentas e programa. O resultado das discussões confirmou a minha impressão de que tudo depende dos objetivos e da disciplina que cada um estiver trabalhando. Nos EUA, por exemplo, são obrigatórios no currículo de todos os cursos as disciplinas de redação acadêmica. Para os professores delas, importa menos avaliar o conteúdo do verbete elaborado pelo aluno (pode ser qualquer coisa - um aluno tem escrito uma lista de ataques de ursos nos parques americanos, por exemplo) do que a forma enciclopédica, a objetividade e o uso das fontes. Em cursos de TI importa mais a relação com a plataforma. Jon Murray, do projeto Murder, Madness and Mayhem, sobre quem já falei, deixou claro que o que lhe importava era que os alunos aprendessem sobre literatura latinoamericana.

Uma coisa discutida no balanço final foi particularmente importante. Como a Wikipédia é um site aberto, nada garante que o trabalho final que o aluno colocou no site continue lá no dia seguinte. Ele pode ser modificado por outras pessoas, para melhor ou pior, ou até mesmo removido por algum administrador que não aprove o texto. Cabe também ao aluno, auxiliado pelo professor e pelos embaixadores, aprender a defender seu argumento perante a comunidade, mostrando por que o texto deve ser mantido, ou mesmo aprender a aceitar colaborações de fora que de fato melhorem o que foi feito (um dos grandes desafios para a academia!...). No entanto, é necessário separar a avaliação: uma coisa é a nota do trabalho do aluno, que pode ser avaliada através da entrega offline do verbete final, e outra é a avaliação de seu desempenho perante o debate com a comunidade. Isso pode até não acontecer - alguns verbetes passam anos sem que alguém os altere.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sobre o encontro em Boston


Boston, Simmons College. Foram dois dias de debates intensos com o pessoal da Wikimedia Foundation, professores, embaixadores e alunos envolvidos em cursos universitários, de graduação e pós, que utilizaram e/ou pretendem utilizar a Wikipédia em sala de aula. A grande maioria eram de americanos, envolvidos no projeto-piloto Public Policy Initiative, voltado para desenvolver e melhorar artigos ligados ao assunto na Wikipédia em inglês, e que fizeram um balanço das suas experiências. Também participaram alguns professores e embaixadores da Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha, Índia e eu como única representante brasileira. O programa indiano já está começando a ficar bem estruturado, com a adoção por várias universidades e diferentes disciplinas. Discutimos formas de utilizar melhor a Wikipédia como instrumento didático, o que funciona e o que não funciona, e como implantar as expectativas de crescimento do modelo em diferentes países.

O que mais me marcou foi a diversidade de disciplinas, métodos e objetivos envolvidos, bem como a disponibilidade absoluta da Wikimedia Foundation de apoiar todos eles. De fato, apesar de ser uma empresa, ainda que sem fins lucrativos, todo o conceito por trás da Wikipédia e dos projetos relacionados é de colaboração livre e irrestrita, o que significa uma grande autonomia para os professores interessados em utilizá-la como instrumento educativo. Debateram juntos professores de áreas distintas como TI, Engenharia, Biblioteconomia e Ciências da Informação, Letras (nos cursos obrigatórios de redação acadêmica, muito comuns nos EUA), História, Administração, Biomedicina, e por aí vai.

Hoje mesmo saiu uma matéria no Inside Higher Ed sobre o evento.

sábado, 9 de julho de 2011

Wikipedia in Higher Education Summit

Estou em Boston participando do Wikipedia in Higher Education Summit, um encontro que reuniu (já estamos no fim) o pessoal da Wikimedia Foundation com professores, embaixadores e alunos envolvidos nos projetos-piloto que aconteceram nestes dois últimos semestres nos EUA. Professores e embaixadores da Índia, Grã-Bretanha, Canadá e Alemanha também estão participando. O encontro tem sido muito intenso, e nos próximos dias postarei sobre todas as discussões em que participei.

Duas imagens minhas no evento, disponíveis pelo Wikimedia Commons:


domingo, 3 de julho de 2011

O caso MMM, "Murder, Madness and Mayhem".

Alguns professores têm feito iniciativas de edição da Wikipédia em cursos universitários já por conta própria. Um caso interessante é o do projeto Murder, Madness and Mayhem, realizado no primeiro semestre de 2008 na University of British Columbia, no Canadá, com o prof. Jon Beasley-Murray (ele tem bastante material de apoio na sua página de usuário). Ele afirma que o projeto foi muito bem-sucedido em criar verbetes de alta qualidade e de baixo índice de reversão. Admito que tudo o que está ali é um volume bastante grande de leitura, e ainda não li tudo. No entanto, já posso indicar dois ensaios úteis do prof. Murray sobre a sua experiência (no entanto, nas páginas de discussão eu vi usuários que reclamaram porque ele nunca mais respondeu emails dos interessados em discutir o projeto...):
Was introducing Wikipedia to the classroom an act of madness leading only to mayhem if not murder? (também em francês)
Advice on Using Wikipedia in Colleges and Universities


PS: O link sobre a University of British Columbia é da Wikipédia em português. Recomendo comparar com os verbetes em outras línguas, através dos links no fim do menu no lado esquerdo da página.

Dúvidas

Listando algumas dúvidas que eu tenho atualmente sobre a metodologia de trabalho com a Wikipédia em sala de aula:
- Os alunos que já estão sabendo sobre o curso, que começará em agosto, estão muito empolgados. No entanto, já avisei que o trabalho será grande. O nível de participação ativa e de envolvimento na discussão e edição de verbetes precisa chegar ainda alto até o fim do curso - até porque será avaliado. Como motivar os alunos durante todo o semestre?
- Como a comunidade que já tem editado os tópicos escolhidos vai receber o projeto? Alguns verbetes precisarão ser demolidos e começar do zero... Como colocar especialistas (ou seja, a "comunidade acadêmica") para dialogar com diletantes sem um nível de conflito que prejudique o trabalho?
- Como evitar que os verbetes finais do curso sejam revertidos ou vandalizados a ponto do trabalho eventualmente se perder? Claro, as alterações são positivas e na verdade inevitáveis - o risco é que elas retornem o verbete a um nível ruim.
- Considerando-se a infra-estrutura precária das universidades públicas brasileiras em geral, qual seria o apoio físico mínimo suficiente para fazer o curso funcionar? Não posso pedir que todos os alunos tragam seus laptops, não só porque muitos não o têm, como porque os que têm um correm risco de ser assaltados no ônibus. O wi-fi no prédio das nossas salas de aula é meio precário, talvez eu precise usar meu modem 3G - serviço que todos sabemos, não importa a operadora, que é muito lento.